quarta-feira, 6 de junho de 2012

TOME CUIDADO COM O CONTEXTO de D.A. Carson - devocional iluminalma


Já se perguntou porque os pregadores e estudiosos bíblicos dão tanta
importância ao "contexto" de cada passagem na Bíblia? Na verdade,
tomara que dessem mais importância! Nesta breve reflexão, D.A.
Carson, um dos maiores intérpretes da atualidade, usando apenas o
exemplo de José em Gênesis 39, revela o quanto se pode extrair de um
texto bíblico apenas considerando o contexto. Se a reflexão lhe
ajudou, por favor, copie o link no final e passe adiante.

Hoje em dia a maioria de nós já estamos familiarizados com vozes
“pós-modernas” que advogam significados abertos. Isso quer dizer,
significados que, no final das contas, você ou sua comunidade
interpretativa “descobrem”. Isso não é necessariamente o significado
que está no texto, e nem necessariamente o que o autor original quis
dizer.

Não é nenhuma surpresa que quando essas vozes pós-modernas se voltam
para a Bíblia, elas com freqüência são atraídas pelas porções
narrativas, uma vez que estas geralmente são mais sujeitas a
diferentes interpretações do que um discurso. Admitamos, narrativas
são comumente tiradas de seus próprios contextos nos livros nos quais
elas foram encaixadas, e são postas isoladamente.

Sem as limitações contextuais, as possibilidades interpretativas
parecem se multiplicar, o que é, claro, o que os pós-modernos querem.
As narrativas têm outras virtudes: são evocativas, afetivas,
imaginativas, memoráveis. Entretanto, a menos que se tome cuidado,
são mais facilmente mal interpretadas do que passagens discursivas.

De fato, narrativas curtas não só devem ser interpretadas dentro da
estrutura do livro no qual se encontram, mas dentro do próprio corpo
literário, e finalmente dentro do cânon. Considere, por exemplo,
Gênesis 39, o relato dos primeiros anos de José no Egito. Uma pessoa
pode ler a narrativa e extrair dela excelentes lições em como
resistir a tentações (p.ex. José se refere ao pecado sexual para o
qual ele foi tentado pela esposa de Potifar como “um pecado contra
Deus”; não era apenas uma mera fraqueza ou defeito. Ele evita a
companhia da mulher; diante da cantada, ele considera sua pureza mais
importante para ele do que seu futuro).

Porém, uma leitura cuidadosa dos versículos de abertura e fechamento
do capítulo também mostram que um dos pontos mais importantes da
narrativa é que Deus está com José e o abençoa mesmo no meio das
circunstâncias mais amedrontadoras: nem a presença de Deus, nem a
bênção de Deus estão restritas a um estilo de vida feliz.

Agora, leia o capítulo no contexto da narrativa precedente: note que
Judá se torna o contraste de José. Judá foi tentado em circunstâncias
de conforto e abundância, e sucumbe ao incesto; José foi tentando em
circunstâncias de escravidão e injustiça, e manteve sua integridade.

Depois leia o mesmo capítulo dentro do contexto do livro de Gênesis.
A integridade de José está atrelada com o meio pelo qual Deus
providencialmente provê alívio da fome, não somente para milhares,
incontáveis pessoas, mas para o povo da aliança de Deus, em
particular.

Em seguida, leia dentro do contexto do Pentateuco. A narrativa é
parte da explicação de como o povo de Deus termina no Egito, o qual
levou ao Êxodo. Os ossos de José são levados quando o povo deixa o
Egito.

Amplie o horizonte agora para encaixar-se no cânon como um todo: de
repente a fidelidade de José em questões pequenas é parte da
sabedoria providencial que preservou o povo de Deus, levou ao êxodo
que serviu como um tipo de uma libertação ainda maior, e finalmente
que chegou ao filho distante de Judá, Davi, e por sua vez a um filho
seu mais distante ainda: Jesus! 

Então, embora possa ser mais apropriado aplicar Gênesis 39
simplesmente como um relato moralizador que nos conta como lidar com
a tentação, a perspectiva que se ganha ao considerar um contexto mais
amplo revela múltiplas vantagens de se ter mais conexões e
significados que leitores (e pregadores) atentos não devem ignorar.