quinta-feira, 29 de março de 2018

Como se Deus não existisse - Ricardo Gondin, pr

Como se Deus não existisse
No século passado, Karl Marx e Sigmund Freud representavam duas grandes ameaças contra a religião. Marx afirmava que a igreja serve a interesses ideológicos de controle político e de subjugação econômica. Freud, por sua vez, percebia os mecanismos infantilizantes da religião quando sacerdotes projetam em Deus nosso desejo por um pai perfeito. Para ele, a prática religiosa condena homens e mulheres a viverem como eternas crianças, sempre precisando de intervenções sobrenaturais para enfrentar as agruras da vida.
É preciso dar a mão à palmatória. Os dois leram as instituições religiosas dos seus dias corretamente, principalmente a cristandade. Desde Constantino, o apelo do poder mostrou-se arrasador e irresistível nas igrejas. Infelizmente, os ensinos do Nazareno foram usados para autenticar o expansionismo imperialista e colonialista dos grandes impérios que se auto-proclamaram cristãos. Padres, pastores e bispos se vestiram como a grande prostituta do Apocalipse e se entregaram por qualquer preço. Monarcas beijaram anéis episcopais enquanto obrigavam seus donos a lamberem suas botas.
Assim, os mercadejadores do templo precisaram distribuir ópio religioso para poderem fazer vista grossa e abençoar inúmeras carnificinas – dos Tsares russos ao Batista cubano; das aventuras ensandecidas de Isabel espanhola às dos Bush, pai e filho.
A adoração do “Deus provedor” ocidental deu razão a Freud, que denunciava os recintos religiosos como incubadoras de oligofrênicos. O proselitismo missionário foi feito, em grande parte, precisando de uma espiritualidade funcional. Na tentativa de mostrar a superioridade de Jeová sobre as demais divindades, criou-se um fascínio por milagres. “Nosso Deus funciona”, clamaram os evangelistas por séculos. Desse modo, o sobrenatural passou a ser compreendido como uma intervenção legitimadora daquele que é o verdadeiro “dono do pedaço”. Assim, os crentes viciados em milagres se condenaram à freudiana dependência infantil.
Em minha opinião, só seria possível resgatar a mensagem de Jesus Cristo, caso a religião abrisse mão de suas hierarquias institucionais, demitisse elites, democratizasse o acesso a Deus, e esvaziasse os rituais da função de serem técnicas para se obter bênçãos. É importante que repensemos a fé, seguindo o exemplo de Jesus que viveu sem precisar de milagres e morreu sem apelar para os anjos. Iguais a ele, precisamos viver sem os cabrestos da religião e sem as intervenções de Deus.
Concordo com John Hick em “Evil and the God of Love” (New York, Harper & Row; London, Mcmillan, 1966, p. 317)
“Ao criar pessoas finitas para amar e serem amadas por ele, Deus precisa dotá-las com certa autonomia relativa quanto a si mesmo”. Mas como pode uma criatura finita, dependente do Criador infinito quanto à sua própria existência e a cada poder e qualidade do seu ser, possuir qualquer autonomia significativa em relação a esse Criador? A única maneira que podemos imaginar é aquela sugerida pela nossa situação efetiva. Deus precisa colocar o homem à distância de si mesmo, de onde ele então pode vir voluntariamente a Deus.
Mas como algo pode ser colocado à distância de alguém que é infinito e onipresente? É óbvio que a distância espacial não significa nada nesse caso. O tipo de distância entre Deus e o homem que criaria certo espaço para certo grau de autonomia humana é a distância epistêmica. Em outras palavras, a realidade e a presença de Deus não devem se impor ao homem de forma coercitiva como o ambiente natural se impõe à atenção deles.
O mundo deve ser para os homens, pelo menos até certo ponto, etsi deus non daretur, “como se Deus não existisse”. Ele precisa ser cognoscível, mas apenas por um modo de conhecimento que implique uma resposta livre da parte do homem, consistindo essa resposta em uma atividade interpretativa não-compelida através da qual experimentamos o mundo como realidade que media a presença divina”.
Uma nova igreja precisa se desvincular de seu fascínio pelo poder, qualquer um: político, econômico, militar ou espiritual. Repito, urge que homens e mulheres construam sua humanidade, sendo sal da terra e luz do mundo, sem necessitar de repetidos socorros celestiais.
[Ricardo Gondim]

terça-feira, 27 de março de 2018

Manto e Terra - são só interjeições pentecostais ou tem mais angú nesse caroço?

Neste texto, uma reflexão sobre as expressões “manto” e “terra” que vêm sendo utilizada entre os pentecostais. O que elas significam? Porque são utilizadas? Para que servem? Superado o desconcerto inicial, passei a indagar não pelo sentido ou a serventia destes termos, mas pela coragem de quem os toma, pois age como se eles representassem ou servissem de algo. Os repetem como um conselho enigmático onde o manto é o mistério e a terra o seu destinatário.

Percorrendo a Bíblia, não foi preciso caminhar muito para encontrar o manto. Ele esteve sobre Elias e depois sobre Eliseu; antes disso, em Moisés; bem depois, sobre Isaías ou Daniel.O manto. A veste do profeta. A identidade do mensageiro. Os arautos bíblicos tinham um. Também o tinham os quatrocentos mentirosos que Acabe consultou para saber se deveria lutar contra os sírios na retomada de Ramote-Gileade (2 Crônicas 18). Eles o tinham e usavam-no, claro, a favor de quem os vestia, de quem os mantinha, de quem lhes dava provisão por previsões. Os quatrocentos aduladores de Acabe, vestindo quatrocentos mantos, entregaram quatrocentas mensagens falsas e derrubariam seu rei quatrocentas vezes. Mas se tinham o manto, se envergavam a cobertura, se andavam como profetas, que importa se mentiam?

Os quatrocentos videntes de Acabe eram parlapatões de farda, enganadores ornados, gabolas condecorados. Apesar de vestidos, estavam nus. Mesmo de túnica expunham suas vergonhas, o embuste de não serem o que diziam. Hoje, eles gritariam “manto!”, como quem afirma credenciais para compensar o crédito que lhe falta. Hoje, os quatrocentos charlatões de Acabe não fariam um culto, mas um espetáculo cuja figura principal seria o próprio rei, que alvo de suas loas cairia abatido pelos falhanços. Mas eles tinham o manto, e isso bastava à sua tola audiência.

Porque dizem “manto!” os profetas modernos? Porque querem ter um e não tem. Porque lhes interessa afirmar o que não são. Porque desejam o que não se pode comprar. Na profusão de modismos pentecostais, qualquer neologismo conta para afirmar espiritualidade. A bem da verdade, não deveríamos estranhar isso, pois a confusão semântica provocada pelos profetinhas é resultado da balburdia espiritual que há muito desencaminhou a profecia de sua vocação bíblica e original, exortar, edificar e corrigir a igreja. Os mantos de agora são como as capas do clero particular de Acabe: servem apenas para exaltar, elogiar e vingar os que têm comichão nos ouvidos.

Isso é sobre o manto. Mas, e sobre a terra? “Terra!” é um vocativo. É a maneira como os homens togados tratam os homens comuns, “Terra!”. Porque somos pó, e ao pó voltaremos. Simples assim. Em Ramote-Gileade, a terra era Acabe. Era o comum, o rei mortal, joguete nas mãos dos homens de manto. Dono de um ego carente, ele dependia das falsas profecias como a terra seca reclama água. Isso o tornou protagonista de um dos maiores pactos de mediocridade espiritual de que se tem notícia: o rei de Israel só consultava os seus adivinhos porque eles o agradavam – lhe parecia bom voltar ao pó iludido quanto à vida, pois a sua morte, já sabia, seria total desilusão. Num arrombo de sinceridade constrangedora, Acabe desintegrou qualquer virtude que ainda tivesse: “Há outro profeta, mas não gosto dele. Ele nunca me fala coisas boas!”. Terra? Não. Poeira.

Quando Deus disse que o ciclo da vida começa e finda no pó (Gênesis 3), ficou provada a temporalidade do existir. No entanto, a vaidade fez do transitório insignificância, pois os humanos desejam mais do que merecem, querem mais do que precisam. Assim, no afã de ter e juntar, os homens “amontoarão” (2 Timóteo 2.4) enganadores que os façam sentir maiores do que são: “Falsos profetas, podem nos chamar de ‘terra’, mas prometam-nos a vingança, as exaltações e os aplausos. Somos ‘terra’, mas queremos o mundo!”. Assim se comportava Acabe, assim se porta nossa geração. Ele era pó, mas seus falsos profetas o faziam sentir montanha. Poeira que era, ainda seria varrido para baixo do tapete da história.

Preocupados demais com a subcultura pentecostal, empenhados em cristalizar o jeito crente de falar e expressar a fé, esquecemos que acima de nossas expressões particulares e seus sentidos ocultos está a verdade revelada por Deus. Esta, sim, um manto que desce dos céus e nos cobre com o entendimento. Dedicados a extasiar os térreos, os profetas dos mantos roubados de um varal qualquer fingem superioridade espiritual, um nirvana evangélico, um êxtase sem igual. E a terra? Ela se deixa impressionar e encher pelo esvoaçar das estolas.

Num lampejo de tardia sobriedade, o rei Josafá, que se meteu a acompanhar Acabe na campanha indevida contra os sírios, pede para falar com um profeta de Deus, um que diga a verdade sem medo de perder o manto, um comprometido com o céu e não com a terra. É neste ponto da história que aparece Micaías, cuja participação é mais relevante por descortinar os bastidores da falsa profecia que por desmentir os enganadores particulares do monarca. Micaías conta ter visto o Senhor desejoso por derrubar Acabe, para o que autoriza um espírito mentiroso falar na boca dos falsos profetas. O frenesi dos quatrocentos embusteiros, então, era coisa pior que meninice, era possessão, era atuação de um espírito enganador enviado por Deus.

Que quer isso dizer? Que todos os que empolgados profetas gritando “Manto!” e “Terra!” estão sob efeito da mentira? Certamente não todos, mas, sem dúvida, muitos, pois a verdadeira profecia não existe para inflar os egos e exultar os homens, ela age para edificar a Igreja e construir-lhe os muros. Entre o manto e a terra, ouço palavras que não servem ao corpo de Cristo, não são úteis ao rebanho, não acrescentam ao povo. Entre o manto e a terra, ouço promessas de vinganças e vendetas. Entre o manto e a terra, Deus mata e enterra. Entre o manto e terra, se mata ou se morre. Entre o manto e a terra, não há vida nem misericórdia. Entre o manto e a terra, vejo Deus reduzido a um jagunço dos crentes, pronto a eliminar desafetos. Foi o que Acabe pediu. Foi o que lhe deram os quatrocentos enganadores de manto.

Gunar Berg de Andrade

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O “CRISTIANISMO” COMO O PIOR ADVERSÁRIO DO EVANGELHO

Do Portal caiofabio.net: 

O “CRISTIANISMO” COMO O PIOR ADVERSÁRIO DO EVANGELHO...

O fato simples é que sem religião, Jesus é quase irresistível, quando exposto em Sua nudez de simplicidade.
Disse “quase irresistível” porque existem os que odeiam o bem e o bom.
Entretanto, na maioria das vezes, em qualquer lugar e cultura, a mera apresentação de Jesus, sem doutrinações, sem vínculos culturais, sem adereços e penduricalhos, o torna insuportavelmente desejável.
Infelizmente, salvo pequenos spots de total ignorância acerca da existência do “Cristianismo” [que é o maior dificultador de Jesus na Terra], Jesus não mais chega sem ter sido precedido pelo anti-testemunho do Evangelho feito pelo “Cristianismo” e sua história de morte, perseguições, corrupção e perversão do Evangelho.
Se a humanidade tivesse uma amnésia total acerca do “Cristianismo”, e Jesus, somente Ele, fosse pregado na simplicidade com a qual Ele mesmo anunciou o Evangelho, então, creia: uma explosão aconteceria.
O “Cristianismo”, todavia, inviabilizou o Evangelho como testemunho universal!
Assim, é a Religião dos Cristãos o poder mais cria antagonismo ao Evangelho entre os homens.
Os Judeus já teriam outra atitude frente ao Evangelho não fosse o Cristianismo.
O mesmo se pode dizer dos Islâmicos...
O mesmo se pode dizer dos Hindus e Budistas...; e de todos os demais grupos históricos importantes.
Os cultos Africanos caso não tivessem sido demonizados pelo “Cristianismo” das formas culturais, e pela impaciência religiosa do “crsistãos”, também não fariam resistência, assim como em geral os índios, quando apenas expostos ao Evangelho, não o rejeitam, antes abraçam Jesus como um menino abraça um amigo.
O “Cristianismo”, no entanto, historicamente, desfigurou Jesus de tal modo que Ele se tornou desprezível em muitos lugares, e não é por maldade humana, mas apenas pela impossibilidade de aceitar o estupro do pacote “cristão sem o espírito de Jesus”.
Desse modo, historicamente, até hoje, o pior inimigo de Jesus e do Evangelho na Terra foi o “Cristianismo”.
Sim, historicamente, quanto mais expansão do “Cristianismo”, mais dificuldades para o Evangelho de Jesus no mundo.
Quem conhece um mínimo que seja dos vasos comunicantes da História, sabe que não exagero nada.
Nele, que é Deus, e, portanto, nada tem a ver com o “Cristianismo”, assim como nada tem a ver com Religião, mas apenas com Vida e Amor,
Caio
28 de abril de 2009
Copacabana
RJ